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terça-feira, 22 de maio de 2012

O que o tempo fez comigo?



 
O QUE O TEMPO FEZ COMIGO?

Hoje me sento em frente ao espelho e contemplo as marcas que adquiri lentamente, a cada sorriso, a cada choro, a cada instante vivido. Não vejo mais o rosto de uma criança, nem o de um adolescente, mas também não vejo o de um velho. Vejo simplesmente a mim, sem uma idade, sem uma feição etária, apenas a minha figura, mutável – inevitavelmente mutável.

Quando vigio meus
  traços no espelho, percebo que inútil seria buscar o rosto de outrora, pois nós sempre temos o rosto de agora. Só as fotografias guardam tão específico momento. Nossa memória tenta embalde manter vivas as imagens que já possuímos, mas o que nos resta é o rosto de agora, as feições do hoje, o próprio hoje estampado em olhos e lábios e nariz e rugas e marcas e tudo.

Mas fora o aspecto físico, retrato da vida vivida de fato, reflito os atos de hoje e os de antes. E tudo é tão distinto também porque o ser humano nunca age da mesma forma. Na verdade, o ser humano é sempre outro a cada instante, porque a cada instante nós adquirimos ou perdermos algo, o que inevitavelmente nos faz outro. Hoje sou outro, não sou mais o de outrora.

O que o tempo fez comigo? Pergunto-me mediante a turbulência da vida que passa displicentemente sob seus olhos. As respostas vêm-me em embaraçoso vendaval de vivências, de aprendizados, de erros, de tudo que me faz esse hoje. O tempo me fez aprender a dosar as paixões, a sopesar os medos, as angústias, as ansiedades. Permitiu-me ele, em sua quase infinita bondade, aprender com os erros para não repeti-los, sem, contudo, impedir-me de errar mais. Errar é tão fundamental quanto acertar. Ensinou-me a enxergar melhor as pessoas, entendê-las e compreendê-las também; ensinou-me também a calar, porque às vezes é preciso deixar o silêncio responder.

O tempo me fez forte, mas não apagou as minhas fragilidades – talvez algumas. Ser frágil também é necessário, faz-me também forte. O tempo fez-me querer ficar só em vários momentos, mas não me fez autossuficiente para eu querer ser sempre só. Talvez me tenha ele feito aprender a viver só, com a minha solidão, que é quando eu reflito sobre a companhia das pessoas. O tempo ajudou-me a aceitar as perdas, mas a lutar para não perder. Ele me fez correr atrás do que me desperta interesse, mas me ensinou a não viver de esperanças, mesmo sem tê-las matado em mim.

O tempo só fez com que eu fosse escrevendo as páginas de mim mesmo, como seu fosse – e talvez eu seja – um livro em processo de criação. Todos somos isso. Um livro sem fim definido, apenas com um fim sabido ser fim. Por isso o tempo me ensinou que às vezes precisamos ser personagens para deixarmos de ser nós mesmos e paradoxalmente sermos ainda mais nós mesmos. O tempo me ensinou a fingir sem perder a ternura da verdade; a sorrir sem perder o milagre da lágrima; a gritar sem perder a melodia do silêncio.

O que o tempo fez comigo? 
O tempo apenas fez-me, mais nada. 
Mais nada.



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Escrito por um grande amigo e também ecritor, 
Professor Sérgio Santos.
Me encaixei tanto nas palavras desse texto 
que resolvi eternizar aqui no blog, 
compartilhando com vocês, 
numa data muito importante pra mim.



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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Noites de Outono




Eu te conheci despretensiosamente, como uma chuva de final de tarde que veio amenizar o calor de uma primavera tropical, colorindo as folhas e flores.  E aos poucos teu olhar e sorriso tímido me deixaram curioso em descobrir o que tinha mais naquela figura até então nova pra mim.

Sem perceber eu te desejei, mesmo achando que não seria intenso. Mas me enganei. Foi intenso, mesmo sem ter tido a oportunidade de experimentar. Mas tenho certeza que não foi platônico.

Eu te olhei com todo o carinho que pude expressar, mas você não conseguiu enxergar, e por medo se afastou. Eu te planejei no meu mais singelo futuro, até nos planos que ainda nem tinha feito. E os sonhos que tive se vão a cada manhã, quando preciso levantar para seguir na vida real lá fora.

E hoje eu te vejo aqui, alí, acolá... às vezes longe nos meus pensamentos, às vezes perto demais, me fazendo agir como um jovem inexperiente em situações afins.

Não vou mais te abordar. Eu já tentei, não tive sucesso.
Então ficarei te olhando de longe, de canto de olho, como se eu não estivesse atento aos seus movimentos.

Entretanto, eu ainda estou aqui, fingindo não me importar, vivendo com a rotina fria de um coração que não tem mais aquela esperança adolescente. Mesmo que sua imagem ainda venha em meus pensamentos, vou procurar guardá-la num cantinho onde não mais perturbe minha mente.

Talvez eu ainda te queira. Talvez.

Contudo, o tempo irá resolver essa questão do talvez e acalmar qualquer resquício de aflição ainda pendente por não ter tido aquelas oportunidades tão sonhadas, tão desejadas... por medo seu!

E quando toda essa tempestade se for e apenas restar uma fria brisa de outono, hei de fato conseguir te olhar de frente e dizer que eu te dei uma chance, mas você escolheu não tentar.

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