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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Anormal? Por quê?







Como estamos na Semana da Diversidade aqui no Acre [15 a 20/09], esse texto é direcionado à família, no qual os pais não compreendem o fato de seu filho (ou filha) ser homossexual. Embora o mesmo não tenha sido enviado a nenhuma, cabe aqui como uma visão dos amigos que tentariam ajudá-lo, errando ou acertando nas palavras.





Não estou aqui levantando bandeira, mas aprendi desde a infância [com meus pais] que o respeito deve existir sempre, seja aonde e com quem for, independente de classe social, cor, crença ou orientação sexual.










CARTA PARA O PRECONCEITO FAMILIAR MATERNAL/PATERNAL





a.nor.mal adj m+f (a4 +normal)
1 Filos. Que foge do ideal, do arquétipo. 2 Estat. Que se afasta dos valores mais freqüentes, ou do tipo médio observado. 3 Que faz exceção à regra comum; anômalo, irregular. 4 Diz-se da pessoa cujo desenvolvimento físico, ou intelectual, ou social é defeituoso. s m+f Pessoa que não é normal. Antôn: comum, normal, regular.
[Dicionário Michaelis]








De certo todos somos anormais, pois o ser humano é diferente por natureza. Não somos e nem podemos ser iguais, pois senão o que seria do doce, se não fosse o salgado? O que seria do branco ou do preto se não fossem todas as outras cores? Enfim, seriam muitas e muitas perguntas para se refletir e não chegaríamos à conclusão alguma, pois é a diferença que nos faz únicos. O ser humano é único por ter um código genético pré-estabelecido desde sua formação. Nossas digitais, nossa íris... todo esse conjunto chamado de máquina/corpo humano nos faz individuais. O fato de ser único no meio de seis bilhões e trezentas milhões de pessoas no mundo nos torna especial, nos torna amados ou odiados, nos torna atraentes ou repelentes. Somos iguais como seres humanos, porém não somos iguais como pessoa, como intelecto.





Dentro dessa perspectiva nos cabe pensar que somos diferentes sim! Temos algo especial. Somos capazes de ser memoráveis, somos capazes de ser apreciáveis (ou depreciáveis em alguns casos). Mas o que conta é que somos um ser.





Se eu gosto de azul e você gosta de verde, por que brigarmos por isso? Nossa forma em apreciar gostos é que faz toda essa diferença. Se eu gosto de café e você de chá, não vai nos fazer inimigos. Se eu sou bem sucedido pelo esforço diário e você ganha todos os bingos por pura sorte, não vai fazer diferença, a não ser que você seja invejoso – o que não é o caso!





O mal do ser humano é a falta de entendimento das coisas. O estranho, o diferente, o que não é regular, o dito “anormal”, que não é “o certo perante a sociedade” (hipócrita como sempre foi), nos faz ignorantes, muitas vezes violentos. Não vou brigar com uma pessoa eu sendo espírita e ela evangélica. São opiniões, visões, crenças diferentes. Grandes líderes provocam guerras por fazer seu povo acreditar que seus valores, suas crenças são as “corretas” e condenar o país vizinho, por ter outras convicções. Pra quê? Pra que tanta intolerância se somos diferentes desde que nascemos? A natureza nos fez diferentes não para desavenças. Não mesmo!








Então pense... pense...







Pais e/ou mães, vejamos o seguinte: Quando você pensou em se casar, pensou em ter filhos, você imaginou uma vida feliz, uma vida impecável, perfeita para que todos os seus amigos, todos os seus familiares fizessem o comentário que você sempre quis ouvir: “Que família linda! Que família perfeita!”. Mas você por acaso já viu alguma família 100% (eu disse cem por cento!) perfeita? Atire a primeira pedra quem já viu!





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Pois é... não existe perfeição. Existe sim o esforço, a dignidade de ser/estar vivo sem ter feito mal a alguém, de deitar no travesseiro com toda a tranqüilidade de ter vivido um dia produtivo, um dia que valeu a pena.





A “família perfeita” não tem dívidas financeiras, não tem dor de cabeça ou indisposição, não tem infiltração na casa, não tem lâmpada queimada, não tem poeira na calçada, não tem folha seca no jardim, não tem carro velho... Pergunte-se: eu já vi uma família perfeita?





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Não existe família perfeita. O que pode existir é maturidade numa relação familiar (isso inclui todos: pais e filhos), tolerância com as diferenças. E pode sim haver respeito, apoio, incentivo e amor para se aceitar tudo o que vier de bom. O fato de se ter um filho, um irmão que tem uma atração pelo mesmo sexo não vai torná-lo “anormal”. Vamos às questões: Se ele fosse um drogado e/ou um ladrão, te desrespeitando diariamente,  na certa você não iria aceitar. E se ele fosse o seu espelho, ignorando-o, desrespeitando-o, deixando de amá-lo quando ele mais precisa do seu apoio, do seu incentivo, do seu respeito, da sua compreensão?





Você iria querer ter um filho assim?





Tá, tudo bem... são casos e casos. Mas ninguém quer uma ovelha negra na família. iria preferir um filho que fosse o seu espelho, ignorando-o, desrespeitando-o, deixando de amelentes. É cultural isso. Vêm de longe, de crenças, de convicções, de conservadorismo, blá blá blá...





Não importa o gosto que ele tenha. O que importa é ele ser amado. O que importa é ele ser respeitado, o que importa é ele se sentir querido por todos. Ser um homossexual não quer dizer promiscuidade, não quer dizer doença, não quer dizer anormalidade.





Não estamos nesse mundo para dizer o que é certo, o que é errado sobre o que uma pessoa é ou não. Errado são os pais não estarem ao lado dos filhos quando eles precisam. Errado é ignorar o filho por achar que ele é anormal... (Anormal? Mesmo?) No fundo esse filho só quer um lugar ao sol. Vergonhoso é ter um dependente químico quebrando sua casa, violentando a todos, saindo pro mundo sem você ter noção de onde ele está. Vergonhoso é ter um filho ladrão, onde aparecem [ou somem] coisas na sua casa sem você saber a procedência. Vergonhoso é ter uma pessoa que não te respeita como ser humano. Vergonhoso é não aceitar que o simples fato de se ter atração por uma pessoa do mesmo sexo não o torna imperfeito, doente ou anormal. Ou você preferia que seu filho fosse ladrão, um assassino, um dependente químico, um psicopata?





O homem não nasceu pra viver só. O homem vive e sempre vai viver em sociedade. Se não há respeito, há injustiça. Se há injustiça é porque não há entendimento. O desconhecido gera medo. Quando é desmistificado, torna-se entendido, mesmo que não aceitável. Não se deixe levar pela incerteza do que você desconhece.





Nesse mundo que você não conhece é tão incerto como o mundo dito “normal” que você o vê no seu dia-a-dia. Nesse meio que você não conhece há sim promiscuidade, inveja, há gente que quer se dar bem às custas das fraquezas dos outros. Também há gente boa, gente que trabalha, gente que tem pai e mãe, também gente que não tem mais pai e/ou mãe, mas vive assim mesmo, se sustenta, trabalha pra comer, pra vestir, pra ter seu teto. Há pessoas de coração aberto, que se preocupam com os amigos, com o bem estar do grupo, que quer crescer profissionalmente, que faz faculdade, que sai pra balada, que vibra numa final de jogo esportivo, que chora num filme triste, que fica indignado com o preço alto dos alimentos, que gosta de ver o pôr-do-sol, que batalha pra se firmar nesse mundo cruel e competitivo como qualquer outro. No seu mundo “normal” também tem gente assim – te todos os tipos – boas ou más!!!





Agora se pergunte: Por que há esses dois mundos? Eu respondo: esses dois mundos existem porque vocês que não entendem que isso não passa de balela – de falta de conhecimento real - compreensão, já que não é nada mais do que o preconceito com o ser humano em si, pois o que seu filho ou sua filha gosta ou deixa de gostar é problema único e exclusivamente dele ou dela. Ame-o como ser humano, não porque ele se identifica com o que você acha não ser o correto, mas sim como cidadão – uma pessoa normal, igual às demais, tendo amigos que o valorizam e que gostariam que ele tivesse uma família que pensasse o mesmo.




Respeite as diferenças.

Respeite para ser respeitado.








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7 comentários:

Daniel Savio disse...

Texto gigantesco, mas vale ler até o final...

Você teceu a idéia muito bem, pois todos somos diferentes, somos seres únicos, mas nos falta sabedoria para reconheçer e saber conviver com os supostos diferentes...

Fique com Deus, menino VDJ.
Um abraço.

Cris Medeiros disse...

Belo texto!

O diferente sempre vai assustar, sempre, independente da evolução da sociedade...

Beijocas

Eri disse...

tava passando um negócio desses no geral do brasil
foi legal

Ana Regina disse...

Ei...
e para aqueles que se acham "os normais" vamos lembrar o querido Caetano Veloso: "...de perto ninguém é normal..."!!!

E viva as diferenças!

Bjocas

Iva Silva disse...

Quem é anormal dentro da normalidade,e quem é normal de da " anormalidade " ??
BJS AMIGO !!

Iva Silva disse...

Quem é anormal dentro da normalidade,e quem é " normal " dentro da anormalidade ??
BJS AMIGO !!

railer disse...

ainda bem que todos somos diferentes, senão não teria tanta graça. o que não pode acontecer é as pessoas serem julgadas por isso. como você muito bem colocou, é preciso ter respeito.