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quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Aquela varanda






Aquela varanda era tão pequena, mas tinha um acolhimento do tamanho que fosse possível.

Ela presenciou festas, risos, choros, piadas, cervejas, paqueras, beijos, brincadeiras e desentendimentos.

Aquela varanda já foi de muretas charmosas, portão baixo e cadeiras de embalo feitas de cipó. 

Também teve grades vermelhas que subiam até o teto e um singelo banco de madeira em sua lateral para acolher seus visitantes.

Aquela varanda tinha um lustre simples, com luz quente, que iluminou tantos rostos e feições.

Ela foi abrigo para dias chuvosos, serviu de cantinho para refeições solidárias, como também para horas de desabafos, guardando todos os segredos sem perguntar por quê.

Aquela varanda, tão pequena, por vezes insignificante, teve seu enorme papel na história de muita gente.

Ela já foi palco de declarações de amor, de abraços de boas vindas e de acenos de despedidas.

Aquela varanda foi da casa que eu cresci. Casa que foi construída por uma família simples, batalhadora, com qualidades e defeitos como tantas outras. Eles a preservaram até os últimos dias de suas vidas.

Aquela varanda sobreviveu a tantos altos e baixos... Hoje ela não existe mais, somente em minha memória e na de muitos e muitas que passaram por ela e deixaram um pouquinho de suas histórias.

Saudades daquela varanda.

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domingo, 15 de julho de 2018

Nico (ato 1)




Nicolau, ou Nico como todos chamavam, tinha cinco anos quando percebeu que a vida poderia ter mais significados do que brincar. Ele viu que a vida era uma festa. Sempre que podia, mesmo ainda jovem, participava das celebrações familiares frequentes e com muita alegria ele se divertia ao modo dele. Com o passar do tempo, isso virou rotina, pois se sentia muito à vontade, já que essas festas eram quase sempre realizadas na casa de seus pais. O público era composto quase sempre por familiares, embora que alguns amigos agregados pareciam mais próximos que muitos parentes. Isso pra ele não tinha problema, sempre se relacionou bem com todos, mesmo ainda muito jovem. Talvez pela tenra idade, ele não se lembra dos preparativos, muito menos do início das festividades, mas em sua memória sempre estavam os sorridos e gargalhadas animadas dos presentes. E o fato de ser muito jovem, nunca permaneceu até o final da festa, uma vez que uma madrugada pra ele era longa demais e ele caia no sono quando a exaustão chegava em seu corpo por ter aproveitado o melhor da festa brincando, comendo e, claro, dançando.

O tempo era algo que passava devagar para Nico, seja em casa brincando, seja nas festas se divertindo. Era algo mágico, que o levava para outro plano, onde não existiam broncas, castigos ou expressões fechadas por algum ato não autorizado feito por ele. Havia uma liberdade em que só se permitia sorrir.

Continua...


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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Conexão perdida



Num mundo onde a pressa é a desculpa para tudo, estamos deixando de observar o realmente importa: a convivência pelo simples afeto.

Nesse mundo conectado, estamos esquecendo de sermos nós mesmo, de termos nossos amigos de verdade, de termos compromisso com o que importa. Sim, estou falando de afeto. Não aquele afeto de comercial de margarina, mas o afeto descompromissado, onde existe aquela química que não se explica entre duas ou mais pessoas que querem simplesmente compartilhar momentos juntas, sejam eles quais forem.

Pessoas estão se isolando por conta de estarem cansadas - sim, cansadas - de tentar fazer com que as relações interpessoais sejam mais leves e menos virtuais. Parece que ninguém se dá conta que viramos escravos de um aparelho de bolso que deveria sim ser nosso aliado, não deixando para segunda, terceira ou quarta opção o mais importante: conviver.

É notório ver tanta gente se sentindo só, mas pra não dar o braço a torcer, ou mesmo ser tachada por achar que elas estão se vitimizando. Ledo engano. Alguns o fazem por imaturidade, mas a maioria se isola mesmo com uma forte máscara de pessoa do bem, pessoa legal, ou mesmo vestindo um uniforme de "introspectiva", mas que no fundo ela está sozinha porque não teve escolha. 

E nem venha dizer que isso é frescura. Você não sabe o que passa na cabeça de outra pessoa, nem do seu melhor amigo. Você tem ideia do que ele pensa, por referência e/ou convivência, mas no fundo não sabe realmente o que passa na mente dele. Então não venha pré-julgar quem você supostamente conhece com achismos de bula de Google.

As consequências disso são ruins, em sua maioria. Nem todo mundo sabe lidar com o fato de estar sozinho, ou se sentir sozinho, ou mesmo ser abandonado. E não vem ao caso dissertar sobre estar sozinho e solidão. Isso é outro assunto.

É, a tecnologia trouxe muita coisa boa, muito comodismo e muito conhecimento, embora que muitos deles sejam superficiais. E sem perceber, vamos alimentando cada vez mais essas relações líquidas por puro comodismo. Em suma, toda mudança tem dois lados que não convergem: ou aproximam ou repelem. Seria fácil escolher a primeira opção, mas na prática nem sempre é assim.

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